FacebookTwitterGoogle+Linkedin
Biscoito da Sorte
Aceita um biscoito da sorte? É só clicar e descobrir a surpresa que tem dentro dele pra você!
X
Ao falar da carta da moça de cinquenta e oito anos atrás, percebeu o desconforto de seu correligionário. Boquiaberto, Amadeu balbuciou vocábulos quase inaudíveis. Esforçando-se para ouvir, o religioso entendeu os dizeres e constatou que a sua história poderia ser tudo, exceto singular.

Conservando a esperança de ser apenas uma vaga similaridade, padre Artelírio tirou o papel semissexagenário do bolso, exibindo-o ao confrade de batina, que, por seu turno, engoliu seco e deixou escorrer uma lágrima pelo canto esquerdo da face, que denotava a sua amargura aflitiva, confirmando com um leve aceno de cabeça que recebera a mesma carta com idêntica letra, também há cinquenta e oito anos.

Assustados, os dois seguiram juntos as entrevistas da lista. E, um por um, foram descobrindo que todos os doze colegas septuagenários, provenientes da mesma interiorana vila, eram detentores de exemplares iguais: mesma escrita, mesmo tom amarelado no papel, mesma tinta de caneta... sendo que nenhum deles conheceu a autora, mas todos obedeceram, emocionados com o teor pessoal e místico da mensagem.Clicando aqui, você lê o conto completo
X
A área imensa, cercada plenamente por uma rede de ferro, era composta por montes de terra contíguos com superfícies permeáveis semelhantes a formigueiros. Eram como se fossem centenas de formigueiros gigantescos emaranhados, cujos topos margeavam uma altitude correspondente a uma dimensão pouco acima à estatura de seus joelhos.

Nas suas frequentes andanças solitárias, nunca o seu coraçãozinho palpitou tanto. Ao lampejo dos seus glóbulos oculares, estava frente a frente com o que, para ele, era o corpo celeste tão distante, a musa dos poetas, foco de seu brinquedo que ganhara do bom velhinho no último natal. Parecia um delírio, mas ele poderia passear sobre a Lua.

Estava, então, preenchido aquilo que, outrora, supria parcialmente o seu apetite pelo romântico: a poesia. Após aquele ínterim, a Lua também daria conta do seu lado desbravador, como no filme com Harrison Ford por ele visto, que não era de viagem espacial, mas encorajava os seus instintos aventureiros.Clicando aqui, você lê o conto completo
X
Será que eu mereço tanta revolta? Eu não sou mau. A única maldade que faço, em situações casuais, é não segurar a porta do elevador quando vejo um sujeito apressado correndo pra entrar. Sei que é egoísmo não querer perder tempo e desejar estar sozinho pra que o cubículo ascendente fique mais confortável, mas isto não chega a ser um traço psicótico.

Enfim, já entardecia e eu achava engraçado o que ocorrera. Por que eu fui participar de um workshop de mecânica se este negócio não tem nada a ver comigo? Será que não? Bem... eu já fui criança um dia e, como todo menino, quis ter um amigo robô. Talvez, involuntariamente, continue almejando construir um. E esta vontade pueril, provavelmente, foi acentuada naquela manhã cinzenta...

E, ao anoitecer, a lua era maravilhosa, conquanto o prazer de contemplar a sua beleza não fosse maior que o sofrimento que um dia confuso aflorou. Confesso que os meus anticorpos psicológicos foram preguiçosos pra combatê-la, mas tudo bem, afinal todas as angústias doem à noite mesmo. Julguei prudente respeitar este ciclo, já que eu sabia que o sol nasceria novamente no dia seguinte e eu teria mais uma chance de ir atrás do que creio que me fará feliz.Clicando aqui, você assiste ao vídeo com animação gráfica
X
Sentindo o ar penetrar mais suavemente em seus pulmões, ao recostar a nuca na região superior de seu dorso, certificou-se que o céu continuava azul, porém, não mais azul força aérea, como todo o peso militar das regras da vida adulta em cima das suas costas, mas, sim, azul bebê, bem mais clarinho, bem mais limpo, quase um azul Alice, remetendo-o à época de maravilhas em que ainda não era proibido sonhar.

Doía, era verdade, mas tudo na vida tem um preço e o montante cobrado pela esperança era a dor. Via-se perdido, entretanto, com a concepção de que detinha um prazo maior de existência para livrar-se das amarras que com ele vieram ao mundo.

Cada um dos adeptos agradeceu o Deus do céu e do trovão pelo fim dos temporais. Sabia que não era nada disto, mas também estava grato pela estiagem que preservou as marcas de pneus, os fragmentos de vidro do farol e os vestígios de seu solado. Sem este capricho da natureza, não teria ele encontrado a rota que lhe revelaria sua furtiva identidade. A consistência pastosa do suco vermelho permitia que fosse acelerada a agonia com a fúria voraz de seus dentes, que não eram mais de leite.Clicando aqui, você lê o conto completo
X
No domingo seguinte, fui à igreja com a minha avó, que era uma católica fervorosa.

Vi uma velhinha ajoelhando-se na frente da imagem de uma santa e fazendo uma promessa.

Aí, pensei: "Será que esse negócio dá certo mesmo?".

Olhei pra cara da santa e decidi fazer a minha promessa também, mas não fui com a cara dela. Também não gostei da imagem do santo do lado... Tinha uma cara de bocó...

Achei melhor procurar um santo que tivesse mais a ver comigo. Como eu usava óculos, fui atrás de um santo de óculos. Não encontrei nenhum e voltei pra casa cabisbaixo.
(Trecho da crônica para rádio "O diabo vai chegar numa Brasília verde")
Clicando aqui, você ouve a crônica
X
Mas, agora, ele era um estrangeiro em Queenstown. Tomando o seu cappuccino com chocolate – antes de ir ao aeroporto e pegar o avião para o estádio de rugby e assistir a um jogo do All Blacks, seu time adotado para torcer neste esporte que ele aprendera a apreciar – devaneava sobre as estratégias mercadológicas que adotaria para aprimorar o seu supremo produto, o seu negócio mais próspero: um jogo técnico de cartas cujos personagens eram astronautas e monstros selênicos.

Assim como, na lonjura de sua extrema mocidade, não se contentou com os limites impostos pelos artefatos prontos e embalados que eram as bolachas de vinil multicromadas, atualmente, profissional bem sucedido da carreira de marketing, não se atinha aos marcos da categoria gerencial de otimização. A ele aprazia tecer planejamentos inventivos.Clicando aqui, você lê o conto completo